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"Quando eu soltar a minha voz por favor entenda que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando...e por favor, entenda, é apenas o meu jeito de viver, o que é amar!" (Gonzaguinha)



sábado, 13 de junho de 2009

Dois


Mil novecentos e oitenta e oito

Foi o ano em que surgiu

Uma estória emocionante

DE dois meninos do Brasil

Dois meninos de oito anos

Um do “Sul” e outro no “Norte”

Que por destino ou por sorte

No Piauí foi se encontrar




Em uma manhã de Sol intenso

Como é no meu sertão

Dessas que o rosto sente

O calor que vem do chão

Sai pra brincar no terreiro

já tinha em mente a intensão

de conhecer os meus vizinho

que chegaram em caminhão




Naquela casa já tivera

Muitos outros moradores

Nenhum deles se fixara

foi embora sem retorno

antes mesmo de firmar

uma amizade maior

daquelas que viram tesouro




Mas voltando pra manhã

Daquele dia bendito

Em que eu brincava no chão

Na areia e sem amigos

Com trecos de minha mãe

Já que brinquedo eu não tinha

Vi sentar-se no batente

daquela casa vizinha

Um menino tão branquinho

Cabelo preto lisinho

Que me olhava curioso

Querendo juntar-se a mim




Como eu dissera antes

fui pralí com uma intenção

de fazer logo amizade

e não, causar confusão

com os meus novos vizinhos

que eu esperava, se firmassem

porque queria um amigo

que me preenchesse o coração




Quando ele me olhou

Olhei de volta e me ri

Chamei que viesse a mim

Pra brincar alí no chão

Ele veio sem demora

Sorrindo um sorriso largo

Em que vi seu coração

Vi que era transparente

Tive certeza depois

Por tudo que nós vivemos

Pela amizade entre nós dois




Brincamos horas a fio

Fui a sua casa e ele na minha

Vi seus pais, vi seus irmãos

E ele conheceu as minhas

Tínhamos oito anos

A inocência de uma época

E muitos de vida




Ele era tão gentil

Sem egoísmo dividia

Tudo o que ele tinha

Um bombom que ele comprava

Um bolo que sua mão lhe dava

E toda a amizade que tinha




Éramos de sagitário

nascidos no mesmo ano

em dezembro pra vida saltamos

e nela muito brincamos

Era trisca, era cola

Boca de forno e roda

Do mata e policia e ladrão

Brincava de futebol

Barra-bandeira e pião

E tantas outras aventuras

Que inventávamos de montão!




E como eu era enrolão

Ele sempre muito reto

Perdia muito na dama,

no dominó e baralho

Mas não causava confusão




Chegou certa vez outro amigo

Morando na casa 15

Ele 14 e eu na 13

Fiquei por ciúme invadido

Pois meu amigo querido

Ia ter mais um vizinho

Iam roubar meu irmão?

Não!

Mas fiquei mesmo enciumado

Me senti ameaçado

Mas abrandei meu coração

Viramos três mosqueteiros

Os três amigos primeiros

De uma vindoura legião




Conforme os anos se iam

Os nossos irmãos cresciam

Augusta, Chris, Lidiane

Vando e seu cabelão

Firmando entre si amizade

Com forte elo e união




Desbravamos nossas casas

Brincando de esconde-esconde

Escondendo objetos

Fazendo muita aprontação

O Centro Esportivo era então

O castelo da imaginação

Todo nosso, todo imenso

O parque da diversão




Embrenhávamos nas matas

Banhávamos nas Pitombas

Bricávamos no Santaninha

Quando ainda em cosntrução

Íamos uma turma

Brincar de polícia e ladrão




E na escola, veja só

Eu era um professor

Metido a lhes ensinar

Toda noite num labor

As lições de sua escola

O Bê-a-bá

Bê -o – bó




Mas brigávamos também

Qual o amigo que não briga?

Entrigávamos demais

Sempre eu gerava a briga

E como eu provocava

Me retratava também

De uma semana não passava

Pois a ausência não suportava

Fazia as pazes

Amém!




Uma vez, que engraçado

Brincando de Changeman ou Jáspion

Acabamos foi brigando

De tapa, que confusão!

Ficamos todo ralado

De rolar em todo o chão

Desde o Centro Esportivo

Passando nos calçamentos

Entrando em sua casa

Parar no banheiro então




Desde cedo trabalhava

Pra ajudar seus pais em casa

Vendia dindim, cheiro verde

Mas não era exploração

Na adolescência ia pra feira

Montar sua barraca cedo

Vendia bem seus cigarros

Bolos que a mãe fazia

E durante todo o dia

Praticamente não o via




De manhã eu estudava

La na minha própria casa

Ele na lida da feira

De segunda a sextafeira

A tarde eu ia ao colégio

Ao dele ele já não ia

Não sentia simpatia

Pelo que via nas aulas




Nos víamos em geral à noite

Quando saiamos juntos

Ou ficávamos alí mesmo

Conversando horas a fio




Certa vez os nossos pais

Tiveram uma discussão

Entrigaram-se então

Pra adulto coisa feia

E nós como ficaríamos?

Nossos pais em confusão?

Tão triste cada um pro lado

Apertado o coração

Sem poder falar um ao outro

Morando em casas ligadas

Com a amizade enraizada

Como dividir o coração?

Afinal pais diferentes

Mas vivíamos como irmãos




Eu andava agoniado

Sem saber o que fazer

Queria falar e não sabia

De que forma proceder

Então num São João do bairro

Pedi a um amigo em comum

Que fizesse a ligação

Que fosse a ele dizer

Que eu queria lhe falar

Não podia lhe perder




Assim esse amigo fez

E ele veio me falar

Disse que não achava certo

Os nossos pais assim brigar

E nós pagarmos o pato

Nós deixar de se falar

Então deixamos de lado

Aquela briga sem sentido

Nos falamos como sempre

E continuamos unidos

Estabelecemos um sinal

Pra chamar o outro em casa

Assubiar num som bem alto

Para o outro alertar

De quando sair pro terreiro

De casa pra prosear




E assim por um bom tempo

Foi como aconteceu

Até aos poucos voltarmos

A viver como devia

Andando um na casa do outro

Tendo a mesma companhia




O tempo assim foi passando

E ele aprendeu a fumar

Eu pedia pra parar

Mas ele não me ouvia

Passou também a beber

E eu não sabia o que fazia




Saiamos de bicicleta

Ele na dele, eu na minha

Desbravando a cidade

Falando das descobertas

Que na adolescência acontecia

Quanta aprontação

Quanto entendimento

Eramos dois irmãos

Carregados pelo vento




E nos nossos reveillons

Muita farra e alegria

Em especial diria

Nos três últimos anos

Que em Oeiras vivemos

Quando meus pais viajavam

E a casa era só minha




Pra lá iam meus amigos

Festejar, brincar, dançar

Conversar e aprontar

Coisa de adolescente

De qualquer cidade e lugar




Naquela noite em especial

Ele bebeu pra dedéu

Ficou muito embriagado

E foi juntar-se a outros

Que estavam a festejar

No Centro Esportivo daquele lugar




Preocupado eu fiquei

Pois tarde já se fazia

Os vizinhos já dormiam

E minha casa esvasiava

Como vi que demorava

Meu amigo a retornar

Fui até o Centro Esportivo

Tentar a ele buscar

E levar pra sua casa

Pra não mais ele aprontar




Quando alí cheguei

E chamei pra vir comigo

Me abraçou pelo pescoço

E falou pros seus amigos:

“Esse aqui é meu irmão”

E sem rima mas com emoção

Completou pra minha alegria

“Amo esse cara! É meu irmão!”




Veio então junto comigo

Eu coberto de emoção

Abraçado junto a ele

Palpitando o coração

Levei-o pra minha casa

Pra sua casa não foi não




No sofá ele arriou

Fechei as portas e entrei

O olhei alí deitado

E então emocionei

Lembrando o momento antes

Tudo o que eu escutei




Chamei meu amigo então

Pra banhar, pra se limpar

Pois na casa, a sala inteira

Ele tava a vomitar

Acanhado tomou banho

Sem tirar nem o calção

Depois levei-o pra cama

Onde dormiu de supetão

E eu deitado na rede

Cheio de atenção




Quando o dia amanheceu

Ele primeiro acordou

A casa toda limpou

E foi-se embora pra dele

Quando acordei pro novo ano

Agradeci a meu Deus

Pois uma amizade como aquela

É sem duvida um tesouro




Chegamos em Noventa e Sete

Agora aos dezessete anos

Dez anos já se passados

Desde nosso primeiro plano

Desde o inusitado encontro

No terreiro lá de casa




Fui-me embora pra Picos

Seguindo minha família

E veja como é o destino

Também foi com sua família

Nada fora planejado

Tudo obra do destino




Em Picos moramos longe

Mas alí nos visitamos

E lembro com muito gosto

Nosso derradeiro encontro

Quando rodamos a cidade

A pé, só nós, conversando

Observando as ruas,

Os picos e tudo o quanto

E aportando no quintal

Da casa em que eu vivia

Apreciando naquele dia

A lua que cheia se fazia




Alí só contemplação

Só olhar e atenção

Mas foi uma conversa linda

Sem palavras, só emoção




Mas quando pensei que não

Sua família já se ia

Ia embora pro Sudeste

Tentar nova vida em Minas

E ele como filho que era

Sua família seguia




Chorei vezes de saudades

Lembrei muito nossa vida

Mas mantivemos a amizade

Mesmo com a distancia maldita




Nos nossos aniversários

Dia oito e vinte e um

Um ligava para outro

Era o mais certo que havia

Pois um do outro não esquecia

Quem é que esquece um irmão?

Mas os anos se passaram

A saudade aumentou

E no ano 2008

Uma decisão se tomou

Eu ia Belo Horizonte

Rever meu querido irmão

Que há dez anos passados

Foi-se embora do sertão

E aqui não mais voltou




Triste fatalidade

O destino nos pregou

Justo naquele ano

Ele de mim o levou

Por uma maldita mão

Que sua vida tirou




Chegara do seu trabalho

Após muito tempo distante

Dias que não ia em casa

Trabalhava com o irmão

E soubera que sua mãe

Tava em outra região

Juntamente com seu pai

Que trabalhava alí na ocasião

Desviara-se pra lá

Foi contente pra abraçar

Seus pais e amenizar

A saudade deles já




Mas foi naquele lugar

Que o maldito lhe tirou

A sua vida preciosa

E a tristeza nos deixou

A falta doída e imensa

Da companhia, da sua presença

Que a todos sempre alegrou

Um amigo, um irmão

Que só fazia o bem

Que conjugava o verbo amar

Com transparente verdade

Sem um pingo de vaidade

Só com Deus no coração




Então ao ir ao trabalho

No fim de um setembro escuro

Recebo a triste noticia

Que me tirou todo o rumo

Perdi o prumo e chorei

No ônibus me desesperei

Gritei assim: “Não, não não!!!”

Cheguei aos prantos no trampo

Não consegui trabalhar

Só chorava, lamentava

E fui um vôo buscar

Pra tentar um último abraço

No meu irmãozinho dar

Não achei horários logo

Fui só na manhã seguinte

E a tempo não cheguei

De rever o meu amigo

Chorei em toda a viagem

E em sua casa sonhei

Com ele a noite inteira

Nossa amizade verdadeira...




Mas sei que ele está bem

Um coração puro assim

Só merece um cantinho

Bem na vista do Senhor

E ele vem a mim sempre

Nos meus sonhos, pensamentos

Aliviar meus tormentos

Quando me pego a chorar

E choro sim, de saudades

Muitas noites, muitas tardes

Quando lembro que a ele

Na Terra não mais verei

Um abraço não mais terei

Só um dia, na eternidade.




Fabiano era seu nome

Flávio Guedes é o meu

Eu o chamava de João

Pra ele eu seria o São

Mas na vida fomos muito

Fomos como dois irmão!

(Flávio Guedes)

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